sábado, 10 de outubro de 2009

Cataratas - Palestra sobre o Puma GT 4R

Agora simultanea está acontecendo a palestra sobre o modelo Puma GT 4R aqui e em Foz do Iguaçu, no VI Encontro Nacional do Puma - 45 anos de Puma.
Uma idéia sensacional de dezembro de 1968 da Revista Quatro Rodas, sortear 3 exclusivos esportivos aos seus leitores. Idéia esta que a Puma abraçou e realizou. Fico imaginando os autores e criadores em conversas para realizar tal façanha, um monte de “poetas” viajando em uma sala, com mil idéias e planos. Coragem das duas partes, por bancar e realizar a construção de esportivo exclusivo, por mais que tenha sido utilizada a base do Puma, não era tarefa das mais fáceis, afinal o tempo era curto.
Mas a Puma venceu o desafio e conseguiu entregar os exclusivos GT 4R em tempo recorde.
No começo os primeiros esboços de Anísio Campos, que participou da equipe comandada por Rino Malzoni.



As linhas bem elaboradas aos poucos foram simplificadas em função de custos e tempo para a realização do projeto.
Aos poucos foi tomando forma para receber os detalhes de acabamento.
Baseado nos modernos esportivos europeus, os traços do GT 4R trazem personalidade, com frente em cunha e traseira truncada, seguia a mesma forma do Puma GTE, mas com identidade própria, sendo inconfundível ao olhar do observador.
Enquanto isso a Quatro Rodas acompanhava o desenvolvimento do esportivo e ia colocando os cupons nas revistas, para o sorteio das três unidades.
Sobre os testes a revista revela que a Puma rodou 15.000 km com o 4R para testar a mecânica. Rodou pelo Brasil e os olhares admirados das pessoas que perguntavam se era um esportivo importado. Rino também menciona que o teste de infiltração de água foi realizada em 30 minutos consecutivos debaixo da água de um lava-rápido.
A motorização ficou entre o 1600 com carburação dupla 32 e cabeçote de única entrada; 1600 com dupla 40 e cabeçote de dupla entrada e o 1800, que Jorge Lettry preferiu abandonar por falta de tempo suficiente para testes. Ele alegava que o motor do esportivo tinha que ter potência, mas também deveria durar como um veículo de uso normal. Acabaram optando pelo 1600 com dupla 40. Isso ajudou a Puma no desenvolvimento do Puma Kit, posteriormente lançado, porque apesar de já ter tido tomado a decisão de não colocar o 1800 no 4R, o desenvolvimento desse motor continuou.
Apesar da base ser o Puma, utilizando chassi de Karmann Ghia, o 4R tinha distancia entre eixos maior 2,28 m contra 2,15 do Puma. Com isso e somado com as linhas mais quadradas, o 4R tinha um aspecto de esportivo maior.
Em setembro de 1969 o primeiro GT 4R está pronto para ser sorteado e começa o “frisson” das pessoas em torno do exclusivo. Em outubro é sorteado o primeiro de cor bronze metálico a uma pessoa do Mato Grosso. Em novembro foi à vez do azul metálico ser sorteado, o segundo 4R e em dezembro o terceiro, na cor bronze metálico.
Dizem que era um bronze, azul e verde, mas nos registros do “Livro Puma” de posse da Araucária S/A, sendo o meu amigo Rubens Rossato seu fiel guardião, consta duas unidades bronze e uma azul. Em virtude da capa da Revista Quatro Rodas, por efeito fotográfico, o azul pareceu verde.

Tamanha exclusividade gerou muita especulação e cobiça em torno dos novos carros, tanto que o segundo ganhador, um bancário de Santos-SP, nem chegou a andar no carro, recebeu o prêmio e no minuto seguinte trocou por um gordo cheque.
Logo os 4R sumiram do mapa, além de serem somente três para esse brasilzão, só frequentava lugares de muita exclusividade.
A Puma fabricou os três 4R para a Quatro Rodas, posteriormente fez mais um veículo para ficar na fábrica, de uso exclusivo de Rino Malzoni, na cor vermelha. Uma senhora que sonhava com o veículo e não foi sorteada, começou a fazer visitas a Puma com o intuito de convencer seus diretores em fabricar mais um carro para ela. Depois de incansáveis tentativas, mais pela grande insistência e porque a Puma precisava de dinheiro para crescer, a senhora conseguiu convencer toda a diretoria para venda do 4R de exposição a ela. E assim foi feito. Contam os amigos que ela chegava na Comercial MM para fazer as revisões necessárias e todos ficavam admirando o bonito carro com uma bela mulher.
Antes de vender à senhora, a Puma emprestou o 4R de exposição para filmagens de Lua de Mel & Amendoim de 1971, onde ele aparece na balsa de travessia para o Guarujá e chegando em fino hotel da cidade.


Até aí tudo confirmado em registros e dados, inclusive esse quarto 4R, consta como 1971 nos registros.
Mas sabe-se que existiu mais um GT 4R. Conta à lenda que um fazendeiro queria o carro para presentear sua amante e não podia aparecer. Pois se é verdade não sabe, mas que esse 4R existiu temos absoluta certeza, porque foi encontrado nas ruas do Rio de Janeiro pelo meu amigo Péricles Cruz, com algumas pequenas modificações.
A partir daí começou a peregrinação do Péricles e minha, sobre mais dados e informações da procedência do 4R. Eu descobri a lenda do fazendeiro e o Péricles verificou nos registros Puma que o número do chassi do 4R dele era o único número que faltava em uma seqüência de 1969, sem alguma menção sobre o assunto. Isso não é comum, porque a numeração sempre obedeceu a uma seqüência para fins de registros no Denatran. Seu carro foi registrado como Puma em 1971.
Depois começou outro dilema que muito discutimos, sobre as lanternas traseiras. O Péricles achava que as originais eram de Impala, mas como provei a ele, essas eram de diâmetro muito menor que as possíveis lanternas utilizadas. Uma coisa é certa, o GT4R nunca utilizou as lanternas de Variant. Primeiro que quando o 4R estava pronto e já sendo sorteado, a Variant ainda não tinha sido lançada (novembro de 1969). Mesmo que a Puma tivesse acesso junto ao fabricante de lanternas do novo modelo, a VW não permitiria a utilização antes dele. Aí vocês perguntam: - Mas e a lanterna do VW 1600 4 portas? Ela apesar de ser igual na parte frontal, a parte traseira era curvada, acompanhando a carroceria da saboneteira Zé do Caixão.
Na foto abaixo, a única de traseira publicada pela Quatro Rodas, se vê o protótipo em teste, com as lanternas do Zé do Caixão, pois tem a curvatura da base e percebe-se a sombra de dois grandes furos circulares de cada lado. Esse protótipo ainda estava com um postiço para-choque de fibra ou borracha.


Hoje todos os GT 4R sobrevivem, alguns já restaurados ou em restauração. Em minha pesquisa verifiquei que todos tinham lanternas redondas na traseira em sua origem. Apenas o número 1, que foi do Pinho, não consegui obter essa informação.
No número 2, pertencente ao Carmelo em restauração, pude comprovar pessoalmente que os furos para as lanternas não foram feitos depois, pois não existe nenhuma marca de emenda em nenhum canto da traseira ou do painel traseiro, além de ser furos modelados e não cortados.


O número 3, hoje pertencente ao Kiko Malzoni, quando foi descoberto pelo antigo dono, também tinha lanternas redondas.
O número 4, daquela senhora, está hoje na Bahia e em um canto da foto, podemos ver o furo redondo.


O número 5, que era do Péricles, hoje em Minas Gerais com o Bruno, também eram redondas as lanternas.

Abaixo uma foto de época, extraída do site do Anísio Campos...
...E no filme "Trote dos Sádicos" de 1974, aparece um 4R dourado e podemos ver as lanternas idênticas às lanternas da foto do site do Anísio.


Essas lanternas ainda não consegui descobrir a sua origem, mas parece ter vindo do Chevrolet Corvair.
Quando da restauração de cada GT4R, todos seguiram o carro do Pinho, porque foi o primeiro a ser restaurado, além de estar muito original.
O número 2 do Carmelo não será alterado porque ele me consultou antes de modificar os furos. Ele ficou muito espantado ao ver que não existiam marcas, suspeitando alguma coisa diferente daquilo apresentado até o momento.
Abaixo o número 3 do Kiko, antes da pintura final verde escuro.
O número 4 da Bahia não se tem notícias de sua situação. Já o número 5 do Bruno, que vinha com uma história que foi motivo de estudo, permanece original com as lanternas redondas.
Existe mais uma história contada, que um 4R todo de metal foi visto e apalpado na região de Campinas-SP. Especula-se ser o modelo que serviu para confecção dos moldes de fibra de vidro, mas até hoje, não consegui a comprovação. Mesmo porque, os modelos eram feitos em gesso, argila e madeira, mas quem sabe não descobrimos mais um.
A foto abaixo feita por Karl Ludvigen no Museu do Ipiranga é a expressão da beleza Puma, incluindo o GT 4R.

17 comentários:

Cesar Costa disse...

Conheci dois GT-4R. O dourado, do pai de uma amiga do colégio e o branco, antes de ser arrematado pelo Péricles. Vi umas duas vezes rodando pelo Leblon e o dono não parecia er noção do que tinha nas mãos. Ambos com lanternas redondas...

MSalinas disse...

Parebéns a vocês pela pesquisa profunda. Sensacional!

Luby disse...

Não é a toa que o teu blog esta correndo mundo, excelente materia, meu amigo mais uma vez tenho que lhe dar os parabens ....

Pumaland disse...

Parabéns caro amigo.
Bem que você falou que a revelação traria uma verdadeira bomba aos meios "quatrorodianos" de discussão.
Confirmando tuas palavras, o meu ex-4R realmente não tinha nenhuma marca de adaptação das lanternas, confirmando toda tua história.
A pesquisa arqueológica continua...

EGO's disse...

Matéria nota DEZ!!

Anônimo disse...

Realmente não tem pra ninguem em materia de detalhes e conhecimento sobre Pumas.Referencia para qualquer assunto sobre estes carros e que vc dispoe para qualquer um que acesse. Parabens pelo trabalho. Oldparts.

Unknown disse...

Felipe,
Esse 4R da Bahia está lá jogado assim ainda ou já está em restauração? Tem notícias atuais dele?
abraços!

Frutello Sorvetes disse...

Felipe,
Um dos 4R, foi sorteado a um rapaz que ainda não tinha carteira de motorista na época. Ele pegou o cupon da revista que era de seu pai, enviou e ganhou o carro no sorteio. Eu tenho essa revista! Assim que achá-la, mando a matéria.
Abraços

Anônimo disse...

Felipe, mais um grande post sobre este tesouro arqueológico chamado Puma GT 4R!! Abração, Cassiano

Felipe Nicoliello disse...

Agradeço à todos de coração e principalmente àqueles que ajudaram em minhas pesquisas.
Hélcio,
A última notícia foi em Lindóia 2009, através do meu amigo Galende de Salvador-BA, que a pessoa que comprou o carro que estava nessa chácara, é um colecionador e provavelmente volta a vida em breve.

Unknown disse...

Felipe,
menos mal, não é mesmo? rs...pelo menos ela não vai se perder no tempo como tantos outros carros clássicos nacionais se perderam, como os lorenas, por exemplo.

Jason disse...

O que diz o Anisio?
Já perguntou a ele?

Anônimo disse...

Amigos
As lanternas traseiras originais do GT 4R eram da variant. As modificaçoes por redondas foram feitas pelos primeiros proprietarios.
Nocaso do carro bronze que pertenceu a mim, consultei o seu segundo dono ( na pratica o primeiro ) sobre este item, e ele me informou q a alteraçao tinha sido feita por ele.
Abraços
Antonio O. W. A. Pinho

Felipe Nicoliello disse...

Antonio Pinho,
Obrigado pelo seu comentário, mas continuo na minha tese, que as lanternas de Variant não estavam no mercado antes do lançamento do carro, que se deu em dezembro de 1970. Já o sorteio do primeiro GT 4R ocorreu em setembro de 1970.
Jason,
Falei com o Anísio Campos que me afirmou, sendo as lanternas redondas, duas de cada lado, que colocaram nos 4R, mas não lembra de que carro eram, afinal são 40 anos.
Seria muito difícil 3 proprietários fazerem a mesma modificação, com o mesmo diâmetro de furação. Cito 3 carros, porque foram os que vi, do Carmelo, o que foi do Péricles, hoje do Bruno e o da Bahia. Somados ao relato sobre aquele que foi do Telles, hoje do Kiko, também era lanternas redondas. Somente a dúvida era sobre o primeiro do sorteio, que foi do Antonio, hoje do Sergio, que agora ele nos fala sobre o assunto.

Flavio M1R disse...

Concordo Felipe, Dificilmente 3 proprietários naquela época fariam a mesma alteração ( ainda mais numa época sem internet e pumaclassic ). rs

Agora se todos restaurarem para colocar a lanterna da Variant, "deixariam" de ser originais e estaria extinto essa variação do gt 4R.

Unknown disse...

Nicoliello
achei ontem o exemplar da Bahia... um achado... conversei com o atual dono e logo deve começar a restauração, que deve demorar pois o carro estava jogado na tal fazenda...

Gilberto Azevedo disse...

Caros amigos,
O puma GT4R branco que aparece em uma foto da sua traseira lanternas redondas com placa XH 1538 foi meu durante algum tempo. Na oportunidade estava estacionado na rua Amaral na Tijuca no Rio de Janeiro. Esse carro foi reformado e pintado de vermelho. Foi vendido e nunca mais tive noticias. Na época fui procurado por um jornalista da revista QUATRO Rodas que fazia uma matéria para uma edição especial de aniversário mas não tive noticias da mayéria e nem das fotos que foram tiradas. Eu acredito que tenho fotos do carro já reformado, assim que eu as encontrar vou disponibilizar. Se alguem tiver ou quiser alguma informação podem me enviar um e-mail para gilbertoazevedo@gmail.com