sexta-feira, 27 de abril de 2012

Puma, uma lenda

Enquanto Rino Malzoni projetava, com uma mente genial, outras pessoas trabalhavam para dar forma em suas criações.  
 Nasce nesse contexto, uma história imaginaria de como seria a cena no galpão de Matão, com Rino e o grande mestre funileiro Francisco Vaida, seu fiel funcionário, que deu formas as suas ideias. Escrita pelo meu amigo Drausio Luiz de Camargo, de Joinville-SC.
Abaixo Chico Funileiro como era conhecido, olhando um dos seus trabalhos, o Carcará, com Jorge Lettry ao volante.
Matão 1:30 am 1962.

Com os olhos quase sem conseguir enxergar, os ouvidos ainda zoando do incessante martelar das últimas horas, as juntas doloridas do esforço descomunal de dar forma naquelas malditas chapas de aço, diabolicamente resistentes a suas tentativas de transformar a fria planicidade em curvas suaves e sensuais, o fatigado artesão encosta-se em uma das colunas do velho barracão de madeira, respira fundo, seus pulmões aspirando um misto de cheiro de café torrado, perfume dos laranjais no começo da floração e os restos, impregnados na roupa, dos fumos da solda com que, tão meticulosamente, uniu dezenas de pequenos pedaços de metal. Contempla surpreso, pela primeira vez, sua obra, que finalmente ganha formas. Formas que parecem querer voar, ganhar as estradas e conhecer o mundo.
Num gesto reflexo saca do bolso da camisa um amarrotado maço de Hollywood, leva um cigarro aos lábios, acendendo um velho isqueiro, com as mãos em concha, protege da brisa que entra pelo  arremedo de janelas, a débil chama.
Puxa um trago profundo, soltando vagarosamente espirais que sobem em direção ao escuro da noite, observado pelo olhar maroto de uma desbotada, Marylin reclinada sobre um lençol vermelho.
Pensa no sonho do seu Genaro, pelo trabalho das suas mãos, já em meio caminho da realidade. Imagina o entusiasmo do velho italiano quando, aos primeiros albores da manhã, entrar ansioso no barracão, para ver a fera metálica em gestação. Nasce assim o primeiro Puma, uma lenda brasileira
moderna.

Um comentário:

Stael Alves disse...

Belo texto, imagino o que passa na cabeça do criador após ver o sucesso das criaturas!
To de volta nesse espaço!

Stael Alves!